“Era só lucro, até virar compulsão”: Como brasileiros estão superando o vício em apostas

Laura Mendes 02/12/2025
grupo de apoio se abraçando

O vício em apostas tem afetado cada vez mais famílias brasileiras, muitas vezes de forma silenciosa. Para oferecer apoio real a quem vive esse desafio, o Aposta Responsável, em parceria com o psicólogo Fabiano de Melo, criou um grupo de apoio no Telegram voltado para acolhimento, orientação e troca de experiências.

🔗 Acesse o Grupo de Apoio do Aposta Responsável aqui: https://t.me/+ANWEfjHlOxJiNDAx

Como parte dessa iniciativa, reunimos uma série de entrevistas com participantes do grupo que decidiram compartilhar, de maneira corajosa, suas vivências com o jogo. Seus relatos mostram não apenas o impacto profundo que o vício pode causar, mas também os caminhos possíveis para recuperar o controle, reconstruir a rotina e reencontrar sentido.

Este artigo apresenta essas histórias — não como estatísticas, mas como vozes que representam milhares de brasileiros em busca de equilíbrio, informação e esperança.


👉 Parte 1 – O início

📌 Como foi seu primeiro contato com as apostas?

Meu primeiro contato foi onde eu trabalhava, no shopping. Alguém me falou da bet365 e eu fiz a conta. Comecei a apostar lá e lucrar. Cheguei a pagar meu primeiro carro com apostas. Era só lucro, eu estava acertando tudo, me especializei em um mercado e comecei a estudar. Mas me bloquearam na casa de aposta bet365 porque eu só estava lucrando.

📌 Em que momento você percebeu que o jogo começou a sair do controle?

O jogo começou a sair do controle quando eu deixava de fazer um simples gesto de beber água sem largar o celular. Até parar de transar eu já parei para apostar em um jogo.Meu dinheiro começou a diminuir, até que minha conta zerou. Todo o dinheiro que eu tinha foi pelo ralo.

💭 Parte 2 – O ponto de virada

📌 Qual foi o momento mais difícil que você enfrentou por causa das apostas?

O momento mais difícil foi quando eu tentei me matar. Bati o carro em um poste. Mas Deus não queria que eu morresse aquele dia. Naquele dia eu só tinha 14 reais na conta.
Todo o dinheiro que eu ganhava de salário, rodando Uber, vendendo celulares, ia para o jogo.

📌 O que te fez decidir parar de apostar?

O que me fez parar foi ver que eu estava me esforçando pra ganhar dinheiro e o dinheiro ia todo para casas de apostas e eu perdia. Eu fazia 2500 a 3500 rodando Uber fora meu salário, o suficiente para pagar minhas dívidas em 4 meses, mas nunca dava para pagar nem o mês — imagina quitar as dívidas.
Fui ver minha conta bancária e sempre era para a casa de apostas. Ali percebi que só dependia de mim, e eu precisava mudar.

📌 Como foram os primeiros dias ou semanas sem apostar?

Precisei ocupar a mente e meu tempo sempre. Não posso ter tempo vazio, sem nada pra fazer, isso é um gatilho. Hoje eu leio, corro, malho, rodo Uber, trabalho na empresa, toco violão, saio, tento ocupar a mente de todas as formas possíveis. Além disso evito contato com pessoas que jogam, que falam de bets, evitei até a barbearia que costumava ir. Saí de todos os grupos que falam de bet, que postam apostas, evito ver muitos jogos.

❤️ Parte 3 – Apoio e recuperação

📌 Que tipo de ajuda você procurou (profissional, amigos, família)?

A ajuda que procurei foi de amigos. Com a família, não conversei mais sobre isso. Não quero que sintam pena de mim. Sempre fui provedor da minha família e quero voltar a fazer isso.

📌 O grupo do Telegram te ajudou de alguma forma? Como?

O grupo me ajuda a desabafar, a ver que existem pessoas como eu — algumas que conseguiram, outras que lutam muito, e outras com problemas piores. Vejo que não estou sozinho.
Desabafar lá e ver as pessoas desabafando me ajuda a me controlar e ter mais fé que vou vencer.

🌅 Parte 4 – Mensagem para outros apostadores

📌 Que conselho você daria para alguém que está tentando parar de apostar agora?

Meu conselho é: você vai falhar, o importante é não desistir.

Eu falhei inúmeras vezes, mas quando percebi que dependia só de mim, eu não parei mais.

Evite tudo que te lembre o jogo. Bloqueie tudo. Evite contatos.
Avise que você não quer mais jogar para que as pessoas evitem falar do assunto.
Não desista.
Corra, nade, malhe, leia, jogue xadrez, vá à igreja — faça o que puder para ocupar a mente.
E tenha uma segunda renda para pagar suas contas sem depender de bet.

📌 Como você se sente hoje, depois de ter dado esse passo?

Me sinto útil. Poder fazer o que gosto sem jogar é ótimo.
Pagar minhas contas, ver dinheiro sobrando, juntar algo novamente, comprar roupas, malhar, ajudar em casa, dormir… Tudo isso se torna mais leve.


Os relatos reunidos nesta série mostram que o vício em apostas não é apenas um problema financeiro, é um desafio emocional, mental e social que afeta rotinas, relacionamentos e identidade. Ao compartilhar suas histórias, os participantes do grupo de apoio revelam algo fundamental: a recuperação é possível, mesmo quando a jornada parece difícil ou cheia de recaídas.

Assim como eles, milhares de brasileiros enfrentam silenciosamente a luta contra o jogo. Iniciativas de apoio, informação e acolhimento fazem diferença real no processo de mudança, especialmente quando conectam pessoas que compreendem a dor e as conquistas desse caminho.

Esperamos que estas entrevistas inspirem mais pessoas a buscar ajuda, reconhecer seus limites e dar o primeiro passo em direção a uma vida mais equilibrada. Ninguém precisa enfrentar isso sozinho, e a transformação começa justamente ao entender que pedir apoio também é um ato de coragem ❤️‍🩹.

Se você também está enfrentando dificuldades com o jogo, saiba que não está sozinho.
Acesse nossa Rede de Apoio e participe do grupo!