Existe remédio para vício em jogo?
Sim, existem medicamentos que podem auxiliar no tratamento do vício em jogo. Contudo, eles não visam curar o vício diretamente, mas controlar sintomas frequentemente associados, como ansiedade, depressão e impulsividade. São comuns o uso de estabilizadores de humor, inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) e medicamentos originalmente utilizados no tratamento de outras dependências, como o alcoolismo.
👉 Lembre-se: O uso de medicamentos deve ser feito através de prescrição médica, sendo necessário também o acompanhamento terapêutico contínuo.
Com o aumento das apostas online, impulsionado por fácil acesso e divulgação por influenciadores, mais pessoas têm sido expostas ao risco da dependência. Muitos iniciam por curiosidade ou diversão, mas podem desenvolver comportamentos problemáticos ao longo do tempo.
💊 Medicamentos utilizados no tratamento do vício em apostas
Considerando os estudos de base, observou-se que ainda não existe um fármaco específico aprovado exclusivamente para tratar o vício em jogos de aposta. O que tem sido feito pelas pesquisas é a utilização de algumas classes de medicamentos. Os resultados indicam certo alívio de sintomas associados, como ansiedade, depressão e impulsividade, fatores que comumente acompanham o comportamento compulsivo relacionado às apostas.
Entre os medicamentos utilizados, destacam-se:
► ISRS (fluoxetina, sertralina): usados para tratar depressão e transtornos obsessivo-compulsivos, podem reduzir a impulsividade e ajudar a controlar o impulso de apostar.
► Estabilizadores de humor (lítio, lamotrigina): indicados para quem apresenta oscilações emocionais intensas, ajudam a promover estabilidade afetiva.
► Naltrexona: originalmente usada para alcoolismo, reduz o prazer sentido com o jogo, sendo uma das substâncias mais estudadas no tratamento da ludopatia, segundo a Cochrane (2012).
Vale destacar que todos esses medicamentos só podem ser utilizados com prescrição e acompanhamento médico. A automedicação não só é ineficaz como pode gerar efeitos adversos como dor de cabeça, azia, febre, tosse, prisão de ventre, aftas, dor de garganta, assaduras, hemorroidas e congestão nasal.
🩺 Diagnóstico e Prescrição Médica Obrigatória
O diagnóstico correto é o primeiro passo para um cuidado efetivo. Muitas pessoas demoram a buscar ajuda por não reconhecerem o jogo como um problema de saúde mental. A nova classificação internacional da OMS, o CID-11, já reconhece oficialmente o transtorno do jogo como uma condição clínica de dependência comportamental. Por isso, o acompanhamento profissional é essencial para garantir tanto a eficácia quanto a segurança no tratamento.
💡 Um dado interessante surge através da prática clínica: A maioria dos pacientes não relatam problemas com as apostas. O que aparece primeiro são os efeitos colaterais, como angústia profunda, conflitos familiares, desorganização financeira, alterações no sono e no humor.
Aos poucos, na escuta clínica, revela-se um padrão: vergonha, medo de ser julgado, o desejo de mudar de vida, prazer da vitória, o desespero diante da perda e a insistência em tentar recuperar o que foi perdido. Indicando que existem estigmas sociais que dificultam o reconhecimento deste problema e por consequência a baixa busca pelos diagnósticos e acompanhamentos com os profissionais necessários.
Essa realidade é confirmada por estudos clínicos. Em um trabalho publicado no Studies in Health Sciences (2023), pacientes relataram perda de controle, ansiedade crônica, isolamento e sentimentos intensos de culpa e vergonha.
💭 Auto Avaliação
Para quem deseja fazer um primeiro levantamento sobre seus comportamentos de aposta, recomenda-se a realização de uma auto análise. O Aposta Responsável disponibiliza gratuitamente um auto-teste online, acessível por celular ou computador.
Essa ferramenta é um ponto de partida para refletir sobre os próprios hábitos de jogo.

O teste, no entanto, não substitui uma avaliação clínica feita por um psicólogo ou psiquiatra. O ideal é que os resultados sirvam como um alerta inicial para procurar ajuda profissional.
Se você sente que o jogo está dominando sua vida, reconhecer isso é um passo fundamental. O caminho da recuperação começa com a conscientização e pode levar a mudanças significativas com o apoio adequado.
Mas afinal, o que é ludopatia?
Ludopatia é um transtorno reconhecido pela CID-11, caracterizado por comportamento de jogo persistente ou recorrente que causa prejuízos na vida pessoal, social e profissional. Trata-se de uma dependência comportamental, e pode ser tão grave quanto o uso abusivo de substâncias como álcool ou drogas.
Jogador recreativo x jogador compulsivo
🙂 O recreativo mantém controle sobre o tempo e dinheiro investido no jogo.
😕 O compulsivo perde o controle, aposta mesmo sem dinheiro, mente, sente culpa, continua jogando após prejuízos e negligencia compromissos importantes.
Sinais de alerta: Quando procurar ajuda profissional?
Alguns sinais podem indicar que o jogo passou a ser um problema:
🚨 Mentir sobre o tempo ou dinheiro gasto em apostas;
🚨 Negligenciar obrigações familiares ou profissionais;
🚨 Jogar para fugir de problemas emocionais;
🚨 Sentir irritação ou ansiedade quando tenta parar;
🚨 Precisar apostar quantias cada vez maiores para sentir o mesmo “prazer”.
Percebeu algum desses sinais? Não hesite em buscar ajuda profissional. O tratamento existe e pode proporcionar qualidade de vida e retomada do controle.
Tratamentos recomendados além de remédios.
O tratamento da ludopatia vai além do uso de medicamentos. Ele precisa ser personalizado e contínuo, incluindo as seguintes abordagens:
✅ Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): uma das mais eficazes no tratamento de dependências comportamentais. Ajuda o paciente a identificar padrões de pensamento disfuncionais, desenvolver estratégias de enfrentamento e prevenir recaídas.
✅ Psicoterapia Existencial: abordagem que pratico, e que busca compreender o sofrimento por trás do comportamento compulsivo — o que está sendo anestesiado pelo jogo? O jogo, em muitos casos, funciona como uma forma de escapar de sentimentos difíceis: solidão, baixa autoestima, fracasso, vazio existencial. Apostar vira uma tentativa de preencher o que falta.
✅ Grupos de apoio: como os Jogadores Anônimos (JA), oferecem suporte emocional, troca de experiências e senso de pertencimento. É uma forma de questionar os estigmas sociais antes citados.
✅ Educação e conscientização: entender os riscos do jogo, os mecanismos cerebrais envolvidos e o impacto emocional é um passo importante para o controle do comportamento.
✅Acompanhamento psiquiátrico: essencial nos casos em que há comorbidades, como depressão, transtornos de ansiedade ou bipolaridade.
✅Internação (em casos graves): quando o paciente coloca a própria vida ou de outros em risco, pode ser necessária uma intervenção mais intensiva, temporária e monitorada.
Conclusão
A compulsão por jogos de aposta é um desafio crescente, mas há tratamento eficaz. Medicamentos podem aliviar sintomas associados, mas não substituem acompanhamento terapêutico contínuo. O tratamento mais efetivo combina apoio psicológico, psiquiátrico e rede de apoio social.
Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, e sim de coragem para retomar o controle da própria vida. Se você ou alguém que você conhece está passando por isso, saiba: você não está sozinho.A combinação entre apoio médico, terapia e rede de apoio é o caminho mais eficaz para retomar o controle da vida. O sofrimento não precisa ser vivido sozinho, há profissionais capacitados para acolher, orientar e acompanhar cada etapa desse processo. O uso de qualquer medicação deve ser definido exclusivamente por um médico, após análise clínica e histórico pessoal do paciente.
Este artigo foi produzido pelo profissional Fabiano de Melo Ferreira (CRP: 52010-04), psicólogo independente vinculado ao projeto Aposta Responsável. Ele não possui qualquer vínculo com plataformas de apostas e não atua como representante, atendente ou suporte técnico dessas empresas. Caso você tenha dúvidas, reclamações ou precise resolver questões relacionadas à plataforma de apostas que você utiliza, entre em contato diretamente com o canal oficial de atendimento da empresa.
Esse artigo baseia-se em revisões da literatura de forma narrativa, por meio de bases de dados como OMS, Ministério da Saúde, ABP e Portal Drauzio Varella. Considerou-se também, a prática clínica do psicólogo que o elaborou.
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Não existe um único remédio. Psiquiatras podem prescrever medicações como ISRS (fluoxetina, sertralina), estabilizadores de humor ou naltrexona, dependendo do caso. Sempre com acompanhamento médico, para aliviar sintomas causados pelo vício, como ansiedade e depressão.
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Não. Os medicamentos ajudam a controlar sintomas associados, mas o tratamento exige acompanhamento terapêutico e mudança de hábitos.
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O tratamento mais eficaz é a combinação entre psicoterapia (como TCC), acompanhamento psiquiátrico e, quando necessário, medicação.
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É possível alcançar controle e qualidade de vida com o tratamento adequado. Embora se trate de um transtorno crônico, muitas pessoas conseguem viver bem com acompanhamento contínuo.
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Podem incluir náusea, insônia, alteração de apetite, fadiga, entre outros. Os efeitos variam conforme o tipo de medicamento e o organismo de cada um.